quinta-feira, 29 de setembro de 2011

VEJA que absurdo.

Ontem, estava eu em uma sala de espera, que como toda sala de espera, se encontrava recheada com diversas revistas deixadas ali para diminuir a agonia dos minutos que se arrastam antes de sermos atendidos.
Qualquer pessoa que me conheça sabe perfeitamente que existem situações bem especificas sob as quais eu me digne a abrir um exemplar da revista Veja, momentos como a necessidade de ascender uma fogueira, ou se uma arma for posta na minha cabeça. No entanto, a matéria de capa chamou a minha atenção. Tratava da legislação brasileira, e como existiam leis que eram absurdas e apenas dificultavam a vida das pessoas. Ora essa, nisso eu concordo, de fato, o aparato legislativo contém um conjunto de leis inúteis, algumas deveriam ser mudadas e outras abolidas, mas pedir para deputados e senadores fazerem o trabalho deles é exigir demais da maioria dos políticos desse país.
Eis que abro a revista e corro meus olhos pela matéria, e dou de cara com o primeiro absurdo. Não, não me refiro ao absurdo na legislação, e sim ao absurdo que vejo sempre que abro a Veja. Entre as leis citadas como inúteis e absurdas, ou que apenas dificultavam a vida do brasileiro estavam duas que mais despertaram minha revolta por se incluírem na lista. Como qualquer pessoa normal, eu jogo lixo não reciclavel fora, não o trago para casa, assim, não tenho em mãos a revista para citar o artigo das leis, mas posso falar a que se referem. A primeira foi a critica a nova gramática do português brasileiro que orienta as escolas a ensinarem aos alunos o português formal em sua maneira de escrever e falar, ressaltando, no entanto, que o português coloquial, a maneira como eles já estão acostumados a falar e se comunicar, não esta errado, uma vez que é impossível trazer a escrita para a fala e usarmos todas as regras gramáticas em nossas conversas no dia-a-dia, assim, a lei confere preconceito lingüístico determinar um padrão correto para a fala e não ater tal padrão somente à escrita.
Ok...
Num país tão grande e diversificado como o Brasil, somos atacados indo a qualquer parte, por uma avalanche de variações e sotaques em TODOS os estados brasileiros. Desde o 'tchê' do sul ao 'oxente' do nordeste, nossa maneira de falar é extremamente diversificada, conferir a uma região ou outra, a um modelo ou outro, o titulo de português falado corretamente, seria rebaixar os demais ao errado quando a função da fala, a comunicação, conseguiu ser cumprida tanto por um quanto por outro. Barbaramente, como sempre, a Veja passou aos leitores palavras como 'estão ensinando nossos filhos o português errado', para chocar as pessoas e cativar a opinião publica, e mais uma vez mostra-se seu total compromisso com a desinformação e a alienação. As escolas não ensinarão o português errado, ensinarão que existe o português formal e o coloquial, o que não quer dizer que um esteja certo e outro errado, simplesmente são duas maneiras de se usar a língua e que devemos nos utilizar delas quando a situação pedir. Não vamos usar camiseta e short para ir a um casamento, e nem vestido longo noturno para ir a praia, o principio é o mesmo. Até gostaria de repetir uma fala do meu professor de latim na universidade, Alzir, a respeito das discussões sobre essa nova gramática... Quando estamos doentes, procuramos um médico. Quando precisamos de conselhos legais, procuramos um advogado. Assim, se a questão é lingüística, então que seja dado aos lingüistas a liberdade e a credibilidade que é dado a médicos e advogados e como a eles, o respeito da não contestação de suas habilidades como grupo de estudiosos da língua.

A segunda lei que me chamou a atenção por fazer parte da lista refere-se a obrigatoriedade das escolas em ensinar no ensino médio, as disciplinas de filosofia e sociologia. Mais uma vez, mostrando-se 'preocupada' com a educação brasileira, a argumentação não apenas é pobre, mas descaradamente parcial, se fala, que no Brasil, que ainda tem tantas dificuldades com o aprendizado em ciências, matemática e leitura, não se devia gastar tempo e recursos com disciplinas que não servem para nada além de formação e ideologias de esquerda.
Até quando, Veja? Até quando?
Nesse ponto, claro, achei perfeitamente plausivel da revista (acho um insulto às revistas colocar essa em especial na categoria, mas não tendo outra palavra, usarei esse termo) Veja defender o não ensino de tais disciplinas nas escolas e apelar para o desenvolvimento das ciências exatas e técnicas, condiz perfeitamente com o real objetivo da revista que não é de informar, e sim de levar as pessoas a idolatrarem um sistema onde nós somos meras engrenagens que o mantém vivo. O aprendizado da sociologia e filosofia leva as pessoas a pensarem, o capitalismo não quer pensadores, quer trabalhadores. Uma mente não esclarecida é facilmente manipulada e subjulgada, é levada a crer que o que é ruim para ela e bom para seu opressor, é na verdade bom para todos. As chamadas 'disciplinas úteis' não levam a reflexão ou ao debate da subjetividade, apenas lhes dá o conhecimento para atender a demanda do qual o capitalismo precisa para sobreviver, não questiona. A sociologia e a filosofia leva as pessoas a questionarem, leva elas a pensar a construir e desconstruir idéias. Mais brutamente que isso, tira as pessoas da ignorancia socio-politica na qual o brasileiro se instalou no século passado. Em outras palavras, faz as pessoas pensarem, pessoas pensantes questionam, e questionariam o estilo de mundo que revistas como a Veja defendem, mais do que isso, pessoas pensantes parariam de comprar e ler a revista Veja e outras publicações tão desinformativas quanto.

A mídia brasileira já mostrou muitas vezes o seu compromisso com desinformação, manipulação e falta de ética. No período das eleições presidenciais, achei que havia chegado ao fundo do poço do ridículo com 'bolinhas de papel', 'militantes' (é até engraçado usarem essa palavra para partidos de direita. É rir para não chorar) do PSDB sendo atacados, entre outras coisas, mas a Veja mostrou que no fundo do poço, ainda é possível cavar um pouco mais.
À equipe da Veja, eu gostaria de perguntar, quando vão trocar o papel utilizado para imprimir a revista para que possamos nos utilizar dele no banheiro, já que no presente momento, nem para isso, esta coisa que chamam de revista, esta servindo.

Um comentário:

  1. Olha, tá pra existir revista mais lesa que essa. Nem me atrevo em mover meu olhar quando passo em uma banda, arde os olhos só de olhar as barbaridades. Chega a queimar se você a toca! -t

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