quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Selma e Sinatra

Depois de postagens um pouco perturbadoras, exposições das minhas próprias frustrações, quero uma coisa mais light. Literalmente, não pretendo me estender muito, primeiro por falta de tempo, segundo porque sei que por mais que use milhões de palavras, não vou conseguir descrever o que quero.
Então... Há alguns meses atras, convidada para participar da feira do livro na minha cidade natal (Mossoró), a escritora gaúcha Martha Medeiros deu uma passadinha aqui pela capital do estado do Rio Grande do Norte, onde participou de um leve bate papo com outro escritor vindo da Bahia. Uma pequena sessão de autógrafos, tudo muito tranquilo.
Incrível como as coisas acontecem e a gente nem percebe o quanto tem sorte as vezes.
Na ocasião em que ela esteve aqui, eu terminava de ler um dos livros de sua autoria "Tuto que eu queria te dizer", um livro muito bom onde ela encorpora diversos tipos de pessoas e escreve todos os tipos de cartas. Reconciliação, ameaças, desabafos, ate carta suicida, realmente muito bom, recomendo, com certeza. Mas não é para falar sobre este livro que estou escrevendo. Pouco antes do inicio do encontro com a escritora com o publico, que foi em um ambiente fechado na Siciliano, eu adquiri três livros de autoria dela, "Cartas Extraviadas" que é um livro de poesias, maravilhoso! "Doidas e Santas" que é voltado para cronicas, e "Selma e Sinatra", que é uma narrativa com poucos personagens.
Já faz muito tempo que eu terminei de ler "Tuto que eu queria te dizer" e "Cartas Extraviadas", porém, "Doidas e Santas" e "Selma e Sinatra" estavam estacionados na minha prateleira, e eu nunca me cobrava lê-los no meu tempo livre. Ontem, depois de passar boa parte da noite ouvindo 4 GB de musicas brasileiras, MARAVILHOSAS, como Chico Buarque, Jorge Ben, Maria do Ceu, Caetano Veloso, Alceu Valença, Zé Ramalho, entre outros, olhei para o livro e decidi que começaria a lê-lo e talvez, ate o domingo terminasse o livro, já que ele não é tão grande.
Adoro quando sou assim surpreendida por mim mesma...
Peguei o livro para ler, aproximadamente as 21:23 da noite, e no som, deixei baixinho tocando o CD de Alceu Valença e logo depois, Zé Ramalho mais uma vez. Quando dei por mim, eu estava já na metade do livro, então, achei que estava bom para começar. Marquei a magina na qual tinha parado, tomei um banho, pus meu pijama, deitei novamente, mas não estava com sono, e ainda era um pouco cedo. Peguei o livro novamente e voltei a ler, estava realmente muito interessante, e quando dei por mim, eram 22:47 e eu tinha terminado de ler o livro.
Assim que o guardei de volta na prateleira, ainda passei pelo menos, mais uma hora pensando sobre as coisas que eu tinha lido. Eu queria poder colocar algumas passagens aqui, mas por mais que eu escolhesse as mais intensas, ou as que me chamaram mais atenção, o livro todo é como um quebra cabeças, e não importa que você mostre a peça mais colorida, as pessoas não vão entender a maravilha da imagem a menos que vejam tudo.
"Selma e Sinatra" fala sobre uma jornalista que vai fazer a biografia de uma grande cantora brasileira, e que esta a procura de um grande sucesso literário. Ao começar as entrevistas com a cantora ela acaba se desapontando, pois tem certeza do quão entediante será seu livro, um fracasso! E tenta de todas as maneiras encontrar alguma complexidade na vida pacata da cantora. No fim das contas, ela acaba de surpreendendo consigo mesma e com sua entrevistada.
Não vou dar detalhes, porque eu espero realmente que quem ainda não leu, se interesse em ler e fique tão maravilhado quanto eu. Os diálogos e as reflexões não tem como não captar as pessoas e fazer você também refletir sobre tudo que as duas personagens conversam.
Não me atrevo a me comparar a nenhum dos personagens, mas se tivesse que achar semelhanças comigo, eu as procuraria em Guta, pela paciência inicial dela, e pela maneira como ela explode de impaciência ao longo da historia, mesmo tentando controlar-se, e também por muitos outros fatores que prefiro não mencionar aqui para não estragar a surpresa daqueles que ainda pretendem ler o livro.

"Que atrevimento daquela garota achar que pode rastrear a dor alheia. Quem é que consegue enxergar o outro por dentro? Quem é que consegue desembaralhar os seres intrincados que somos? Mas que gigantesca insolência querer arrancar verdades, como se fosse fácil verbalizar tudo que sentimos. Falo português, canto em português, mas penso sem palavras, penso sem articulação, penso com estilhaços, não me esforço em me compreender feito uma pagina escrita, nunca tive esta ousadia, mas ela tem.
(...)
Quem procura palavras para se decifrar esta buscando autenticar uma farsa. É sempre um parto difícil, induzido, e não se sabe o que vamos ter que adotar como nosso ate o fim da vida. Quanta responsabilidade, identificar-se! "Esta sou eu, muito prazer. Sinto isso, gosto daquilo, sou contra, sou a favor..." É uma idiotice delimitar-se através de preferencias e opiniões. E depois morrer justificando estas escolhas que foram apenas casuais, oportunas, apetecíveis num determinado momento, mas nunca para sempre."

Trecho de Selma e Sinatra - Martha Medeiros.

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